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Receita Completa – Chouriço Seco Artesanal Rústico (5 kg)
Receita Completa – Chouriço Seco Artesanal Rústico (5 kg)
Sem nitrito, sem fermentação industrial – método natural
Origens antigas
Já existiam formas primitivas de enchidos na antiguidade: na Grécia, Homero menciona na Odisseia um “intestino recheado de sangue e gordura” cozido ao fogo — uma das mais antigas referências a enchidos.
Em Espanha, as práticas populares de transformação do porco remontam à Península Ibérica dos iberos (século IV a.C.), que usavam carne, sal, alho e ervas, secos ao ar.
O papel de Roma e a introdução do paprika
Durante o Império Romano, as técnicas de salga e fumagem foram introduzidas em Espanha, incluindo a produção de enchidos.
Mas o paprika (e, portanto, a cor vermelha) só chegou com a descoberta da América, no século XVI.
Primeiras referências escritas
A palavra “chouriço” aparece nos escritos espanhóis por volta do século XV, designando uma linguiça de porco temperada com sal, alho e especiarias.
A Real Academia Española publicou em 1726 no Diccionario de Autoridades a primeira definição formal de chouriço:
“Pequeno pedaço de tripa recheada com carne finamente picada, temperada e geralmente fumada”
Primeira receita documentada
Um manuscrito anônimo do século XVI, intitulado Manual de mujeres, contém uma das primeiras receitas conhecidas de chouriço: carne magra e gordura de porco picadas, farinha peneirada, alho, cravinho, vinho branco, sal.
A mistura é moldada, repousa por um dia, depois embutida e seca ao fumeiro.
Apogeu real: o rei Carlos IV e o choricero
O rei Carlos IV foi conquistado durante uma caçada por um artesão charcuteiro local, que nomeou fornecedor oficial da corte.
Este episódio está imortalizado na tapeçaria El choricero José Rico, atribuída ao cunhado de Goya.
Evolução ao longo dos séculos
Antes do uso do paprika, o chouriço tinha uma cor mais escura ou clara, dependendo da possível presença de sangue.
O paprika, introduzido da América, transformou o chouriço numa linguiça vermelho vivo, tal como a conhecemos hoje, conferindo cor e sabor fumado.
Com a industrialização no século XIX, o chouriço tornou-se um produto comum em Espanha, até se tornar um símbolo da gastronomia popular e internacional.
Linha do tempo resumida
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Antiguidade: referências a enchidos ancestrais
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Iberos (século IV a.C.): versões primitivas sem paprika
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Século XV: primeiras menções escritas da palavra chouriço
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Século XVI: chegada do paprika → cor vermelha
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1726: menção no dicionário oficial espanhol
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Final do século XVIII – início do século XIX: difusão real (Carlos IV)
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Século XIX: industrialização e difusão global
A cor vermelha característica do chouriço provém principalmente de:
Paprika fumado (pimentón)
Este é o ingrediente principal responsável pela cor vermelha.
Existe em versão doce (pimentón dulce) e picante (pimentón picante).
O paprika é rico em carotenoides, nomeadamente capsantina e capsorubina, dois pigmentos vermelhos estáveis.
Durante a mistura da carne, estes pigmentos colorem a carne em profundidade.
Processo de fermentação e secagem
A mioglobina presente na carne (um pigmento natural) estabiliza-se sob certas formas na presença de sal, acidez (vinho) e ambiente anaeróbico parcial (na tripa).
Este processo, combinado com o paprika, fixa a cor vermelha escura ao longo da secagem.
Nota
Não se usa aqui nenhum nitrito, por isso a cor é um pouco menos “vibrante” do que nas charcutarias industriais, mas permanece naturalmente vermelha e estável se a receita for bem seguida.
Uma boa qualidade de paprika fumado é essencial: é ele que dá tanto a cor como grande parte do sabor.
Ingredientes (para 5 kg de recheio)
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4 kg de paleta de porco (carne magra com um pouco de gordura)
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1 kg de toucinho duro ou gordura do pescoço (importante para a suculência)
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100 g de sal marinho fino (20 g/kg para conservação)
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50 g de paprika fumado doce (pimentón dulce – base do sabor espanhol)
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25 g de paprika fumado picante (pimentón picante – ajustar conforme tolerância ao picante)
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25 g de alho fresco (esmagado ou finamente picado)
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10 g de orégano seco (típico das receitas rústicas)
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5 g de pimenta preta moída (opcional, mas tradicional)
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2 a 3 g de cominho moído (opcional – aroma quente, usado no sul)
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100 ml de vinho tinto seco (para acidificar ligeiramente)
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2 a 3 folhas de louro (para infusão no vinho – opcional)
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10 g de açúcar (opcional – ajuda na fermentação natural)
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Cerca de 6 a 7 metros de tripas naturais de porco (calibre 40/42 mm)
Equipamento necessário
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Moedor de carne (disco 6–8 mm)
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Embutidor de linguiça
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Luvas, cuba para mistura
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Barbante
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Balança de precisão
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Câmara de secagem ou espaço temperado e ventilado
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Ganchos ou varão para pendurar
Etapas de preparação
Higiene
Desinfetar tudo: equipamento, bancada, mãos.
Tudo deve estar limpo e frio.
Preparar a carne
Cortar a carne e a gordura em cubos de aproximadamente 3 a 4 cm.
Resfriar por 1 hora no congelador (sem congelar completamente, só para firmar).
Moer
Moer a carne e a gordura com disco de 6–8 mm.
Manter a carne bem fresca.
Temperar
Misturar a carne moída com todos os ingredientes.
Adicionar o vinho tinto (infusionado com folhas de louro se desejado).
Amassar vigorosamente com as mãos por 10 a 15 minutos. A mistura deve ficar ligeiramente pegajosa.
Dica: cozinhar uma pequena porção numa frigideira para testar o tempero.
Descanso da mistura
Cobrir e deixar descansar 24 horas no frigorífico (máx. 6 °C).
Este descanso favorece o desenvolvimento de aromas e conservação.
Enchimento
Molhar as tripas em água morna por 30 minutos e enxaguar o interior.
Encher sem bolhas de ar e sem compactar demasiado.
Formar chouriços de 30 a 40 cm e atar com barbante.
Fermentação natural (48 a 72 h)
Suspender os chouriços num local quente e húmido: temperatura entre 20 e 22 °C, humidade entre 85 e 90%.
Um leve cheiro ácido ou humidade é normal.
A cor escurece.
Secagem (4 a 8 semanas)
Transferir os chouriços para um local mais fresco: temperatura entre 12 e 15 °C, humidade entre 70 e 75%, ventilação suave, pouca ou nenhuma luz.
Duração da secagem: entre 4 e 8 semanas, dependendo do calibre e condições.
O chouriço está pronto quando perdeu cerca de 30% do peso.
Conservação
Depois de seco, o chouriço pode ser:
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Pendurado num local seco e ventilado
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Embalado a vácuo
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Conservado no frigorífico
Duração da conservação: vários meses
Dicas e avisos
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Se o local estiver muito seco, as tripas podem endurecer demasiado rápido. Proteja com um pano húmido ou saco de papel perfurado.
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A fumagem leve (carvalho ou faia) é possível, mas não tradicional em todo lado.
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Bolor branco natural (Penicillium) é normal.
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Em caso de manchas verdes ou pretas espessas, limpar com vinagre.